quarta-feira, 15 de julho de 2009

"a crise não é apenas do sistema financeiro, mas do próprio sistema capitalista"

Joilson Cardoso, secretário Nacional do Movimento Sindical do PSB: "a crise não é apenas do sistema financeiro, mas do próprio sistema capitalista"


Redução da jornada de trabalho sem redução de salário, renúncia fiscal com reciprocidade de garantia de manutenção de emprego e mudanças estruturais para promover a distribuição de renda e ter um mercado interno pujante. As sugestões foram apresentadas pelo secretário Nacional Sindical do Partido Socialista Brasileiro e secretário de Política Sindical e Relações Institucionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Joilson Cardoso, como medidas de combate aos efeitos da crise econômica. Todas as questões foram pontuadas aos deputados federais , em audiência pública, realizada na Câmara dos Deputados.

Joilson Cardoso, em entrevista ao Portal PSB Nacional, avalia que o déficit de emprego no setor industrial está sendo sanado, mas trabalhador sente os efeitos da crise no momento de negociação de reajuste salarial nas sua data-base.

Confira a entrevista na íntegra.

Portal PSB Nacional – A crise do capitalismo tem afetado diretamente a classe trabalhadora, com repercussões em todos os setores da economia. Quais pontos as entidades de defesa dos trabalhadores têm defendido como prioritários neste momento?

Joilson Cardoso – A valorização do salário mínimo e do mercado interno constitui posição unânime entre as centrais sindicais. Existe união das centrais também na posição contrária aos juros altos e em defesa da poupança e renda do brasileiro, que não deve ser atingido pela crise econômica.

O pensamento do trabalhador é de que a crise não é apenas do sistema financeiro, mas do próprio sistema capitalista e que a solução do Brasil para a crise deve ser de um projeto nacional de desenvolvimento. Os sindicalistas reconhecem setores industriais patrióticos, que tem posição altiva com os trabalhadores. O setor dos bancos é exemplo contrário a este projeto. Prova disso foi o caso da renúncia dos compulsórios, medida adotada pelo governo para garantir o crédito, e que foi usado para especulação.

Portal PSB Nacional – O que você apontaria como uma questão crítica nesse momento onde se vê um cenário onde o risco do desemprego ainda tira o sono de muitos trabalhadores?

Joilson Cardoso – Um problema é a ausência de um pacto social que garanta a qualificação do trabalhador, cobrando qualificação combinada com o seguro-desemprego, que permita ao trabalhador se recolocar no mercado ou migrar para outro setor da economia. Toda a discussão deve considerar que quase metade dos trabalhadores vive à margem da legislação trabalhista, porque estão na informalidade.

Portal PSB Nacional – As centrais sindicais consideram a desoneração da folha de pagamento um instrumento de dinamização do mercado de trabalho?

Joilson Cardoso – Não existe consenso entre as centrais sindicais sobre o assunto. Existem aqueles que defendem que a medida abriria postos no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que existem aqueles que acreditam que a renuncia não serviria a este propósito.

Portal PSB Nacional – E a desoneração dos investimentos?

Joilson Cardoso – Medidas como a desoneração dos investimentos devem ser adotadas como medida conjuntural e criteriosa, para que não sirvam para acumulação de capital, o que pode inclusive aprofundar a crise. Quatro, das seis centrais sindicais, realizam congressos este ano para aprofundar as discussões sobre os assuntos mais polêmicos que surgem como medidas para combater os efeitos da crise.

Portal PSB Nacional – Como o Congresso Nacional pode agir, neste momento, em favor da classe trabalhadora?

Joilson Cardoso – Um ponto importante é a regulamentação da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estabelece critérios para demissões. Demissões recentes provam que não existe rigidez da legislação brasileira para impedir tais situações. Pelo contrário, 54% dos demitidos nos anos de 2007 e 2008 foram dispensados sem justa causa.

As mulheres são as mais penalizadas pela crise, pois recebem salários menores que o dos homens para mesmas atividades exercidas e são as primeiras a serem dispensadas, por discriminação e assédio moral e sexual. É preciso que as empresas esclareçam os motivos das demissões. Veja o caso da Embraer. A empresa recebeu recursos do governo para minimizar os efeitos da crise e, ainda assim, demitiu quatro mil trabalhadores no final do ano passado.

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